Restauração ecológica dos biomas brasileiros com recursos do Fundo Socioambiental do BNDES e de instituições apoiadoras
Iniciativa inovadora para uma economia sustentável e de baixo carbono
Mecanismo de Financiamento Amazônia Viva fortalece organizações, negócios e a cadeias da sociobiodiversidade
Educação ambiental enraizada no território fortalece a RESEX Cazumbá-Iracema
No Acre, a Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema tem consolidado uma forma singular de educação ambiental — que parte da escuta dos mais velhos, das histórias contadas nas varandas de casa e do saber construído em comunidade. A Reserva conta com 22 escolas distribuídas entre os níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Criada em 2002, a RESEX ocupa mais de 754 mil hectares de Floresta Ombrófila, um tipo de vegetação tropical que se caracteriza por elevadas taxas de chuvas e pouca ou nenhuma estação seca, entre os municípios de Sena Madureira e Manoel Urbano. Hoje, ela é considerada referência na articulação entre conhecimento tradicional e práticas de educação ambiental voltadas à sustentabilidade. Quem afirma é Naiara Bezerra da Silva, gestora do Núcleo de Gestão Integrada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na região. Para ela, a educação por ali não se limita às salas de aula que existem na reserva: “É um aprendizado que nasce da convivência, da floresta, dos modos de vida extrativistas e da relação direta com o território”. Na prática, o que se vê é um processo educativo construído a muitas mãos. Jovens participam de oficinas sobre biodiversidade com pesquisadores e, ao mesmo tempo, ouvem dos avós as histórias sobre o modo de vida sustentável. Esse modelo de educação entre gerações, de modo oral em diversos casos, vem sendo fortalecido com o apoio do Programa Áreas Protegidas da Amazônia -ARPA, que atua nos bastidores para que a rotina da reserva funcione. O ARPA viabiliza a infraestrutura que sustenta o cotidiano da unidade: transporte, alimentação, hospedagem e compra de materiais, contribuindo com as ações de forma transversal. “Sem esse apoio, seria impossível manter as atividades regulares em áreas tão remotas”, explica Naiara. O resultado é um território que educa — não apenas suas crianças, mas também pesquisadores, gestores e visitantes. Na Cazumbá-Iracema, preservar a floresta é também uma forma de preservar o conhecimento que ela abriga. E ao fazer isso, a RESEX reafirma o papel central das comunidades locais na conservação da Amazônia. Ao completar 21 anos, a reserva também deu um passo importante no fortalecimento da segurança fundiária com a entrega do Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU), que reconhece o direito coletivo das famílias extrativistas sobre mais de 145 mil hectares. A medida facilita o acesso a políticas públicas, garante mais autonomia às comunidades e contribui para manter viva uma das formas mais antigas e resilientes de viver na floresta. Entre seringueiras e histórias, a Cazumbá-Iracema mostra que o futuro da Amazônia pode — e precisa — ser construído com quem chama a floresta de casa. O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Global Environment Facility (GEF, na sigla em inglês) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.
Ler notíciaNo Pantanal, formação para prevenção contra incêndios mobiliza mais de 70 pessoas, com apoio do GEF Terrestre
De 22 a 24 de abril, o Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense – 135 mil hectareas numa das regiões mais conservadas e de maior biodiversidade do bioma – recebe brigadas de incêndio da região, algumas consolidadas, outras em formação, para treinamento sob a supervisão técnica do Ibama/Prevfogo. A iniciativa é financiada pelo projeto GEF Terrestre, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) sob gestão do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora. Além disso, contará também com o apoio da Unesco e do WWF-Brasil. O evento reúne também representantes do Parque Nacional do Pantanal, Corpo de Bombeiros, Marinha do Brasil e organizações da sociedade civil. Ao objetivo geral de formação soma-se a necessidade de fortalecer a articulação para as ações de prevenção e resposta em caso de incêndios. Várias ações estão em andamento, sendo uma das mais importantes que envolverá mais de 70 pessoas de diferentes instituições para a formação, capacitação e reciclagem de brigadas comunitárias da região da Serra do Amolar, ao Norte de Corumbá (MS). No total, 28 brigadistas participam da ação. “Na década passada o fogo no Pantanal não era considerado uma ameaça com potencial de impacto negativo nos níveis que temos visto nos últimos anos. Esse novo contexto climático, posiciona a atuação de brigadistas comunitários como atores essenciais para conter o impacto do fogo no Pantanal. Investir em eventos como esse significa reconhecer a importância desses atores e a urgência de fornecer a preparação adequada para que eles tenham condições de atuar na linha de frente ao menor sinal dos primeiros focos de incêndios. O FUNBIO como gestor do GEF Terrestre acredita que na prevenção também se faz a conservação de um bioma singular, como o Pantanal, por isso apoiamos essa inciativa de ECOA”, diz Manoel Serrão, Superintendente de Projetos do FUNBIO. Formadas por pessoas que vivem no território e conhecem profundamente cada palmo dele, as brigadas comunitárias conseguem agir com rapidez diante de focos de fogo em estágios iniciais e, quando necessário, acionando o Ibama/Prevfogo, o Corpo de Bombeiros e outras forças de resposta. Em muitos casos, são a primeira linha de defesa do bioma contra os incêndios. Nos últimos anos o Pantanal sofreu com secas extremas, provavelmente como efeito territorial das mudanças climáticas globais. Nesta nova conjuntura em que os eventos climáticos extremos trazem efeitos devastadores como os grandes incêndios, a articulação entre governos e sociedade para a prevenção e combate é estratégica. Em 2020 mais de 4 milhões de hectares foram devastados, em 2023 mais de 1 milhão e em 2024 ultrapassou 2 milhões. Vale registara que em 2024 houve a maior seca registrada no Pantanal. A área queimada foi considerável, mas menor do que em 2020 graças ao planejamento e ações consequentes para a prevenção e combate. Nesse trabalho envolveram-se o Ibama/Prevfogo, os Corpos de Bombeiros, a Marinha do Brasil, organizações da sociedade e as brigadas comunitárias e privadas. Segundo o último boletim o Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos, há 70% de probabilidade de que a Fase Neutra entre os fenômenos El Niño e La Niña se mantenha nos próximos meses, condição que tem coincidido com secas mais severas no Pantanal.
Ler notíciaSoluções ambientais e resiliência na Rebio Guaporé em Rondônia
Em meio a uma das regiões mais biodiversas da Amazônia, a Reserva Biológica do Guaporé, em Rondônia, abriga ecossistemas únicos, ameaçados por pressões ambientais crescentes, como o aumento da população de búfalos, ação de madeireiros e a curiosa presença do pirarucu que, apesar de ser uma espécie amazônica, representa um risco para espécies nativas da região. Criada em 1982 e com mais de 615 mil hectares, a unidade integra o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) desde 2017 e, nos últimos anos, tem intensificado ações de educação ambiental para conscientizar moradores locais sobre os impactos destas atividades, devido ao status de proteção integral da reserva. De acordo com Lidiane França da Silva Tomazoni, chefe do Núcleo de Gestão Integrada Cautário-Guaporé, “as ações de educação ambiental buscam não apenas informar, mas também envolver as pessoas, criando um vínculo mais próximo entre esses atores, a gestão da unidade de conservação e a natureza”, afirma. Embora o pirarucu seja uma espécie nativa da Amazônia, ele é considerado exótico invasor dentro da REBIO Guaporé pois o peixe não é originário das bacias localizadas no interior de Rondônia, a jusante da extinta cachoeira de Teotônio, no Rio Madeira. Estudos apontam múltiplos fatores para a presença do pirarucu na região, incluindo falhas em pisciculturas que permitiram o escape de alevinos, alterações no curso dos rios causadas por usinas hidrelétricas, eventos de cheias históricas e até introduções acidentais ou intencionais por humanos. Apesar de ainda não existir manejo autorizado do pirarucu dentro da REBIO Guaporé, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) tem realizado encontros com as comunidades sobre o tema. Segundo Lidiane, o diálogo e as ações educativas visam explicar os impactos das espécies invasoras e apresentar alternativas sustentáveis inspiradas em outras unidades de conservação, como o manejo comunitário em pequena escala e o ecoturismo. “É um processo de escuta e sensibilização. Caso haja interesse por parte das comunidades, os projetos precisam ser elaborados e submetidos à análise e aprovação para só então serem implantados”, esclarece a gestora, que complementa: “A parceria com organizações locais, grupos de líderes comunitários e educadores ambientais tem sido fundamental para disseminar conhecimentos sobre os ecossistemas da região, a biodiversidade e os serviços ambientais prestados pela floresta.” O ARPA apoia com suporte à infraestrutura e ao funcionamento das UCs, criando as condições necessárias para que essas ações aconteçam com mais frequência e qualidade. Isso inclui apoio a atividades que promovem a sensibilização de comunidades locais para conservação e uso sustentável, capacitações e oficinas para participação comunitária, ações educativas de proteção para manejo e proteção territorial, além de atividades de comunicação para divulgar a importância da UC e aproximar o público de seus desafios e relevância. Expedição quilombola Um exemplo recente foi a expedição científica realizada em fevereiro de 2024 nas comunidades quilombolas do Vale do Guaporé. A atividade levou ações socioambientais às populações locais, unindo preservação ambiental, resgate cultural e práticas de educação ambiental. As oficinas envolveram temas como gestão do território, uso sustentável dos recursos naturais e valorização das práticas tradicionais. A comunidade Quilombola de Santo Antônio do Guaporé, enfrenta desafios complexos relacionados à sua sobreposição com a REBIO Guaporé. A comunidade, reconhecida como remanescente quilombola desde 2004, possui um território de 7.221 hectares que se sobrepõe à área da reserva. Um Plano de Utilização foi estabelecido em 2017 para conciliar os interesses da comunidade e da REBIO, definindo regras de uso para a área de sobreposição. A REBIO Guaporé abriga uma diversidade de espécies vegetais e animais, incluindo algumas em risco de extinção. Espécies como a maçaranduba (Manilkara amazonica), o amarelão (Apuleia molaris) e o janité (Brosimum ovatifolium) são parte da rica flora local. A presença de búfalos ferais (selvagens) dentro da unidade também representa uma ameaça concreta à biodiversidade da reserva. Esses animais, introduzidos de forma desordenada na região, causam impactos como o pisoteio de áreas alagadas, destruição de ninhos e alteração do equilíbrio dos ecossistemas naturais. O controle dessa população tem sido debatido por órgãos ambientais e comunidades locais, que buscam alternativas sustentáveis e efetiva. Para Lidiane Tomazoni, a educação ambiental é essencial para transformar a relação das pessoas com o meio ambiente, e superar desafios como a invasão dos búfalos: “A conscientização das novas gerações é um dos pilares para garantir que a preservação ambiental seja entendida não apenas como uma responsabilidade coletiva, mas também como uma ação que pode trazer benefícios para todos, tanto no presente quanto no futuro.” Ao promover o entendimento dos desafios ecológicos e das soluções possíveis, a educação ambiental se mostra um instrumento poderoso para inspirar mudanças de comportamento e atitudes. Para Lidiane, a educação ambiental contribui para construir uma base sólida para o desenvolvimento sustentável da Rebio Guaporé: “Assegurar um legado positivo para as próximas gerações depende da harmonia entre as atividades humanas e os recursos naturais”, conclui. O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.
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